Concha de vieira
encontrada na areia da praia de Santos: contundente!
“Hoje, ao despertar, 3 de junho (neste momento, já
no Aeroporto Internacional de São Paulo), dia em que inicio o Caminho...,
busquei sinais. Nada que me qualifique como uma vítima do TOC, aquele
transtorno obsessivo compulsivo que ficou conhecido na pele do Rei Roberto
Carlos. Algo místico, talvez, apenas para sinalizar que o dia será coroado de
êxito, como se todos os dias não o fossem, pela simples comprovação numa
primeira suspirada.
Caiu a casquinha de minha penúltima espinha do
rosto! A unha do dedão da mão direita cresceu o suficiente e fez desaparecer a
marca do hematoma que havia abaixo, causado por uma mordida despretensiosa da
Lady! Pelo sim, pelo não, mantive a rotina e fui para o escritório trabalhar
numa última (¿) (por onde anda a tecla do sinal de interrogação¿¿¿) tarefa...”.
Os dois
parágrafos acima não são inéditos. Eles fazem parte do capítulo “Eu e mais...”,
do segundo volume da trilogia “Pedras do Caminho”, que focou o sentido do
perdão no Caminho de Santiago. O texto foi elaborado em junho de 2010, pouco
antes de peregrinar o Caminho Português a Santiago de Compostela. O livro foi
lançado em abril deste ano, na Casa do Trem Bélico, no Centro Histórico de
Santos – e o terceiro e último volume da trilogia, denominado “Busca sem fim”, sobre
o Caminho Aragonês, tem lançamento programado para março de 2015...
Lembro
sempre das reflexões que me inquietavam antes do embarque para a Península
Ibérica e citei o trecho porque o considero muito atual e sintetiza meu
sentimento agora, quando decido sobre minhas opções de vida – e como é bom
tê-las!!! –, deixando aflorar com mais intensidade este meu lado místico.
Nestes dias,
como naquele, estou em busca de sinais, uma busca silenciosa, que ameniza minha
ansiedade, ao mesmo tempo em que a provoca, com ideias que me deixam em paz e ao
mesmo tempo se projetam em desafios: chegou a hora!
“Chegou a
hora?”, me pergunto constantemente: “É hora de voltar ao Caminho de Santiago de
Compostela? Estou preparado para voltar à peregrinação?”.
Sigo
buscando e sou inspirado por Mateus 10,9-10: "No llevéis oro, ni plata, ni dinero en el bolsillo, ni zurrón
para el Camino, ni dos túnicas, ni sandalias, ni cayado; porque el obrero tiene
derecho a su sustento".
Sim, haverá
um dia em que seguirei meu Caminho como sugere o Apóstolo. Não sei quando será,
mas não temo; e quando chegar a hora estarei preparado... apenas com uma
túnica, sem sandálias, sem cajado, apenas eu, como cheguei nesta vida.
Como sempre
costuma acontecer comigo quando enfrento dilemas desse tipo, persigo sinais.
Uma busca que de tão silenciosa mais parece que não busco; aguardo que os
sinais se apresentem. Faço o mínimo esforço, evito movimentos bruscos, não
quero me parecer induzido. Afinal, admito a imponderabilidade da forma como se
dará, ou se darão os avisos. Utilizo o plural, mas logo me questiono. Afinal,
será um? Ah! Um já foi; talvez dois. Haverá outros? Sim, com certeza. Pois eu
os espero – sem pressa, apenas atento, pois o mais provável é que seja
absolutamente inédito, contundente, absolutamente irrefutável, diferente de
tudo que já aconteceu, ou, pelo contrário, muito semelhante das outras vezes.
Não, não é possível imaginar o que possa acontecer.
Continuo
refletindo, remoendo os pensamentos, aguçando minha visão, imóvel,
contemplativo, e me lembro do início do ano passado, 2013, quando vivia esta
mesma boa angústia, na dúvida de voltar ao Caminho, programando peregrinar o
Caminho Sanabrês. Passava os momentos de lazer me distraindo na preparação da
rota: será a partir de Granja de Moreruela? Mas, como chegar a Granja de
Moreruela? Em quantas etapas farei? Adotarei o desvio em Verín? Utilizarei a
rota tangencial para passar, quem sabe dormir, no Monastério de Oseira?
Em 3 de
fevereiro de 2013, ao reconhecer o sinal definitivo, postei em minha página no
Facebook: “Muita felicidade encontrar esta pequena concha de vieira negra ao
caminhar hoje à beira-mar, na Praia do Embaré, em Santos... Nem é preciso dizer
qual era o principal assunto da caminhada... Nem enfatizar o inusitado do
achado, não só pelo tamanho minúsculo – numa praia de 7 km de extensão –,
especialmente quando se sabe que a espécie, embora encontrada em vários
oceanos, é mais comum no Norte da Europa, América do Norte e Japão. Viva
Santiago!”
Ora, a
concha de vieira é símbolo de Santiago! O improvável encontro para mim foi
definitivo, minha agonia parecia silenciar – ou pelo contrário, havia ficado
mais intensa. Não, não havia mais o que esperar. Dois dias depois, em 5 de
fevereiro, postei na Face: “Adquiri, hoje, o bilhete para Madri, de onde sigo
para Zamora, de trem, para peregrinar o Caminho Sanabrês a Santiago de
Compostela, em junho. Pronto, falei!”
Tudo correu
bem no meu Caminho Sanabrês, ou Mozárabe..., que foi minha quarta peregrinação
a Santiago de Compostela e será apresentado em livro, inaugurando, quem sabe,
uma nova série após a trilogia “Pedras do Caminho”.
Estou
esperto e confiante. O Caminho estará me esperando? Santiago estará me chamando?
Pelo sim, pelo não, me preparo... Buen Camino!