sábado, 15 de novembro de 2014

Aguardo sinais...

Concha de vieira encontrada na areia da praia de Santos: contundente!

“Hoje, ao despertar, 3 de junho (neste momento, já no Aeroporto Internacional de São Paulo), dia em que inicio o Caminho..., busquei sinais. Nada que me qualifique como uma vítima do TOC, aquele transtorno obsessivo compulsivo que ficou conhecido na pele do Rei Roberto Carlos. Algo místico, talvez, apenas para sinalizar que o dia será coroado de êxito, como se todos os dias não o fossem, pela simples comprovação numa primeira suspirada.
Caiu a casquinha de minha penúltima espinha do rosto! A unha do dedão da mão direita cresceu o suficiente e fez desaparecer a marca do hematoma que havia abaixo, causado por uma mordida despretensiosa da Lady! Pelo sim, pelo não, mantive a rotina e fui para o escritório trabalhar numa última (¿) (por onde anda a tecla do sinal de interrogação¿¿¿) tarefa...”.

Os dois parágrafos acima não são inéditos. Eles fazem parte do capítulo “Eu e mais...”, do segundo volume da trilogia “Pedras do Caminho”, que focou o sentido do perdão no Caminho de Santiago. O texto foi elaborado em junho de 2010, pouco antes de peregrinar o Caminho Português a Santiago de Compostela. O livro foi lançado em abril deste ano, na Casa do Trem Bélico, no Centro Histórico de Santos – e o terceiro e último volume da trilogia, denominado “Busca sem fim”, sobre o Caminho Aragonês, tem lançamento programado para março de 2015...
Lembro sempre das reflexões que me inquietavam antes do embarque para a Península Ibérica e citei o trecho porque o considero muito atual e sintetiza meu sentimento agora, quando decido sobre minhas opções de vida – e como é bom tê-las!!! –, deixando aflorar com mais intensidade este meu lado místico.
Nestes dias, como naquele, estou em busca de sinais, uma busca silenciosa, que ameniza minha ansiedade, ao mesmo tempo em que a provoca, com ideias que me deixam em paz e ao mesmo tempo se projetam em desafios: chegou a hora!
“Chegou a hora?”, me pergunto constantemente: “É hora de voltar ao Caminho de Santiago de Compostela? Estou preparado para voltar à peregrinação?”.
Sigo buscando e sou inspirado por Mateus 10,9-10: "No llevéis oro, ni plata, ni dinero en el bolsillo, ni zurrón para el Camino, ni dos túnicas, ni sandalias, ni cayado; porque el obrero tiene derecho a su sustento".
Sim, haverá um dia em que seguirei meu Caminho como sugere o Apóstolo. Não sei quando será, mas não temo; e quando chegar a hora estarei preparado... apenas com uma túnica, sem sandálias, sem cajado, apenas eu, como cheguei nesta vida.
Como sempre costuma acontecer comigo quando enfrento dilemas desse tipo, persigo sinais. Uma busca que de tão silenciosa mais parece que não busco; aguardo que os sinais se apresentem. Faço o mínimo esforço, evito movimentos bruscos, não quero me parecer induzido. Afinal, admito a imponderabilidade da forma como se dará, ou se darão os avisos. Utilizo o plural, mas logo me questiono. Afinal, será um? Ah! Um já foi; talvez dois. Haverá outros? Sim, com certeza. Pois eu os espero – sem pressa, apenas atento, pois o mais provável é que seja absolutamente inédito, contundente, absolutamente irrefutável, diferente de tudo que já aconteceu, ou, pelo contrário, muito semelhante das outras vezes. Não, não é possível imaginar o que possa acontecer.
Continuo refletindo, remoendo os pensamentos, aguçando minha visão, imóvel, contemplativo, e me lembro do início do ano passado, 2013, quando vivia esta mesma boa angústia, na dúvida de voltar ao Caminho, programando peregrinar o Caminho Sanabrês. Passava os momentos de lazer me distraindo na preparação da rota: será a partir de Granja de Moreruela? Mas, como chegar a Granja de Moreruela? Em quantas etapas farei? Adotarei o desvio em Verín? Utilizarei a rota tangencial para passar, quem sabe dormir, no Monastério de Oseira?
Em 3 de fevereiro de 2013, ao reconhecer o sinal definitivo, postei em minha página no Facebook: “Muita felicidade encontrar esta pequena concha de vieira negra ao caminhar hoje à beira-mar, na Praia do Embaré, em Santos... Nem é preciso dizer qual era o principal assunto da caminhada... Nem enfatizar o inusitado do achado, não só pelo tamanho minúsculo – numa praia de 7 km de extensão –, especialmente quando se sabe que a espécie, embora encontrada em vários oceanos, é mais comum no Norte da Europa, América do Norte e Japão. Viva Santiago!”
Ora, a concha de vieira é símbolo de Santiago! O improvável encontro para mim foi definitivo, minha agonia parecia silenciar – ou pelo contrário, havia ficado mais intensa. Não, não havia mais o que esperar. Dois dias depois, em 5 de fevereiro, postei na Face: “Adquiri, hoje, o bilhete para Madri, de onde sigo para Zamora, de trem, para peregrinar o Caminho Sanabrês a Santiago de Compostela, em junho. Pronto, falei!”
Tudo correu bem no meu Caminho Sanabrês, ou Mozárabe..., que foi minha quarta peregrinação a Santiago de Compostela e será apresentado em livro, inaugurando, quem sabe, uma nova série após a trilogia “Pedras do Caminho”.
Estou esperto e confiante. O Caminho estará me esperando? Santiago estará me chamando? Pelo sim, pelo não, me preparo... Buen Camino!